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As coisas avançaram muito lentamente. Estivemos muito tempo sem falar. Ele sempre a insistir, eu sempre a ignorar. Ele nunca desistiu e eu nunca tinha tido ninguém que me desse assim tanta atenção. Até que parei de oferecer resistência, parei de fugir dos meus sentimentos. Já não dava mais, já não valia a pena lutar por uma causa que há muito estava perdida. Tinha-me apaixonado e isso era um facto. Por ele, deixei coisas muito importantes para trás. Com ele, cheguei a acreditar que realmente era possível ser feliz ao lado de alguém.
Passou um ano. Nunca cheguei a devolver-lhe os cigarros que lhe devia nem as cervejas que ficaram esquecidas no frigorífico da minha casa. Dei-lhe muito mais do que isso. Eu dei-lhe o meu coração, um coração carregado de bons sentimentos e muitas esperanças de um futuro feliz. Ele tomou conta dele durante algum tempo, acarinhou-o e encheu-o com emoções ainda mais fortes. Quando achou que já não era suficiente, quando se cansou, amachucou-o como quem amachuca um jornal velho e, por fim, deitou-o fora.