"Permites alguém entrar tão fundo em ti, mas tão fundo, que só assim é possível que te consiga atingir. E esse alguém faz-te mal. Magoa-te.
Dói que se farta: alma esfolada, coração em sangue. Engoles as lágrimas que o teu orgulho não deixa chorares e segues em frente.
Apagas sms do telemóvel, fotografias do pc, textos do blog. Começas por bloqueá-lo no msn depois, à força do peito esmagado de cada vez que o vês on line, apaga-lo de vez. Deitas para o lixo todos os objectos que te ligam a ele, deixas de usar as mesmas expressões, quebras rotinas, evitas lugares comuns. Descaracterizas-te dele. Rezas para nunca mais te cruzares com ele e sabes que a isso se chama negação ou evitação mas não queres saber de Psicologia para nada.
Primeiro não lhe consegues desejar mal: ainda gostas demasiado dele. Depois ganhas-lhe raiva. E desejas-lhe que nunca mais arranje outra gaja e mesmo que arranje formulas-lhe votos de lepra na pila e chatos gigante nos tin-tins. E se não arranjar mesmo, torces para que lhe caiam todos os dedos, um por um, para nem sequer se conseguir masturbar.
Depois já não pensas nele todos os dias quando acordas nem quando te deitas. E cada vez vais pensando menos nele. E não lhe desejas nem bem nem mal: não lhe desejas nada.
Um dia, dás por ti de férias, pele dourada ao sol, e percebes que já nem te lembravas dele há mais de um mês. E esses pensamentos são cada vez mais intervalados. E chega finalmente o dia derradeiro, passados 476 dias do fim, em que ouves, pela primeira vez sem mudares automaticamente de frequência, a música que era vossa, do princípio ao fim. E gostas. Porque é apenas uma boa música. Passou o dói-dói."
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