segunda-feira, 5 de março de 2012

Ferida

Lembraste de quando eras pequenino e, entre brincadeiras desengonçadas, caías e esfolavas o joelho? Nessa altura doía e tu choravas e gritavas. E tinhas que desinfectar a ferida, fazer um curativo. Uma vez foi mais grave e tiveste que levar pontos. Ao inicio doía todos os dias, ardia. Mas, a pouco e pouco, a dor tornava-se menos forte, menos incomodativa. Até que só te doía quando mexias na ferida. Ela ia sarando, a pouco e pouco. E tiraste os pontos. Um dia deixou de doer e só restou a cicatriz. E aquela cicatriz, no teu joelho, só servia para te relembrar que, um dia, algures na tua infância perdida, caíste e te magoaste e choraste. Mas era só isso – uma cicatriz. Só quando olhavas para ela é que te lembravas daquela queda. Agora já não doía.
Era nessa fase que eu estava, antes de tu reapareceres, em Novembro. De vez em quando, lá olhava para a cicatriz que deixaste no meu coração. E questionava-me pelos porquês de tudo aquilo. Mas era só isso. Já não doía. Ou se calhar doía mas eu habituei-me a viver com essa dor, até que ela se tornou familiar. Adaptei-me. E reconstruí a minha vida. Levantei-me, desinfectei a ferida e limpei as lágrimas. O que passou, passou. Ou julgava eu.
Mas tu voltaste. Tinhas que voltar. Voltaste e viraste a minha vida de pernas para o ar, outra vez. Fizeste-me crer que desta vez seria diferente. Eu, inocente, acreditei. Convenci-me de que não estava a criar esperanças e que se as coisas corressem mal eu estaria preparada para lidar com isso. Enganei-me, eu sei. E nisso faço mea culpa.
Reabriste a ferida. Sim, essa mesma ferida que tanto custou a sarar. Que tanto me fez sofrer. Mostraste que respeito e consideração por mim tens zero. É assim hoje e foi assim sempre. Toda a gente via, menos eu. Não quis ver, preferi negar as evidências. Agora, vivo tudo de novo. Com a diferença de que tenho a consciência de que acabou. E dói mais, ainda. Revelaste a pessoa que és e que sempre foste. Não vales metade daquilo que eu passei por ti. Não vales metade daquilo que eu estou a passar por ti.
Acabou.

1 comentário:

  1. Ainda bem que finalmente abriste os olhos (desculpa por dizer isto).
    Já passei por uma situação assim, mas não foi assim tão profunda. Sei perfeitamente o que se sente, e apesar de sabermos que vamos voltar a sofrer caimos novamente na conversa fiada.
    Quando li que tu ias outra vez pelo mesmo caminho, nem queria acreditar. Se te dissesse para o não fazeres muito provavelmente não me prestarias atenção, como as tuas amigas de certo tentaram fazer.
    Ao saber que tinhas ido para fora pensei que era de vez que o ias por para trás das costas.
    Apesar de não te conhecer, custa-me saber que voltaste a reabrir essa ferida. Mas alegro-me por saber que desta vez é a última.
    E tenho a certeza disso. E só te quero dar força para seguires esse caminho. Vai ser complicado fechar outra vez tudo (provocou um enorme estrago na tua vida), mas segue em frente. Pareces ser uma boa pessoa e mereces ser feliz.
    Ignora quem te fez mal no passado e agarra-te às coisas boas que tens na tua vida.

    Beijinhos...

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