domingo, 8 de janeiro de 2012

...

"Somos os dois tão carentes, tu e eu, que não conhecemos outra forma de atravessar a vida sem procurar desesperadamente tábuas de salvação afectivas. As mais evidentes são as pessoas com quem nos relacionamos de forma amorosa. Depois vêm os amigos e por fim as nossas famílias, que tanto trabalho nos deram durante a infância e adolescência, e que, de certa forma, criaram e alimentaram as fraquezas que escondemos do mundo, mas não de nós próprios... Amar sem esperar reciprocidade é uma doença silenciosa e traiçoeira como o cancro; quando damos por isso, o mal causado já se espalhou de tal forma que não é possível escapar. Eu escapei. Escapei ao fim de... longos anos de calvário auto-infligido... tu foste a minha última miragem, o derradeiro de todos os cavaleiros andantes, porventura o mais belo, construído pela minha paixão obstinada em perseguir um ideal, e seguramente o mais fraco quando, por fim, te consegui ver sem ser em cima do cavalo.... Estes e outros raciocínios do mesmo tipo denotam uma índole insegura e profundamente egoísta. Nunca sabes o que queres e vives tão perdido nas tuas dúvidas que nem sequer consegues perceber o mal que podes infligir aos outros. Faltam-te generosidade e empatia, bem como aquela qualidade tão rara quanto digna a que os ingleses chamam kindness... Só Deus sabe o caminho que percorri e quantas vezes tropecei para chegar até aqui. A tua natureza fugidia e arisca não é a tua primeira natureza, antes uma reacção à realidade que te confrontaste. Nunca te habituaste a dar.
Quis tanto que tu me amasses... não se pode querer isso dos outros, é uma violência para eles e para nós próprios. Uma violência e um disparate. Tu foste a minha grande aposta e a minha maior decepção."

O Dia em que Te Esqueci, Margarida Rebelo Pinto

Sem comentários:

Enviar um comentário