Seis meses. Foste embora há seis
meses. Faltam seis meses para voltares. Eu? Cansei. Cansei de esperar. Cansei
de fazer da minha vida uma espera. Cansei de contar os dias. Cansei de contar
os meses. Não posso reduzir a minha vida a uma espera. Não quero.
Seis meses. Cento e setenta e
três dias. Em todos, sem excepção, pensei em ti. Contigo fiz uma coisa que
jamais fiz com outrem A ti entreguei-me, nua – vulnerável – numa folha de
papel que atravessou um oceano. Nessa folha não foi apenas uma parte de mim,
fui eu, mulher inteira e imperfeita. Ofereci-te o meu coração. Um coração
renovado, renascido, o coração puro daquela criança que há quinze anos te dava
beijinhos na boca às escondidas, atrás daquela buganvilia em flor. Minto se
disser que não esperava nada em troca. (Ofereci-me a ti! Queria-te, em troca!).
Deste-me o esperado, escolheste o lugar comum. Questionaste o que eu sentia e,
com isso, questionaste o meu corpo, questionaste o meu coração. Esperava
chorar, mas sorri. Porque sabia (sei) que me queres, que me sentes e que me
gostas. Mesmo com um oceano entre nós.
Senti-te todos os dias, nestes
seis meses. Senti-te, toquei-te e
cheirei-te. Fui sempre tua, mesmo quando procurei os teus abraços nos braços de
outro. Fui sempre tua, mesmo quando ofereci o meu corpo a outro que não tu. O
meu corpo sim, o meu coração nunca. Porque quando se dá um corpo a outro é
mesmo isso que acontece: dois corpos, oferecidos um ao outro, consumidos pelo
instinto. Mas quando se dá um coração a outro, acontece outra coisa: mais do
que dois, tornam-se um. E isso é mágico. Afortunados os que experimentaram essa
mística sensação que nos faz morrer e nascer no mesmo milésimo de segundo.
Agora? Estou exausta. Dói me a
alma. A alma velha, ao contrário do coração que te dei. Não posso fazer da
minha vida uma espera. Não quero. Gostava de ter a coragem de viver para ti.
Mas eu, mulher inteira e imperfeita, sou fraca. E a minha vida não és tu.
A minha vida sou eu.
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