sábado, 31 de julho de 2010

Um ano depois

Pois é, o tempo passa estupidamente depressa. Há um ano atrás, dia 31 de Julho de 2009, de uma forma ténue ou até mesmo transparente à primeira vista, a minha vida começou a mudar. Nessa altura, preferi ficar no Porto em vez de ir para o Algarve com a minha mãe. A V. fazia anos e estava a passar uma fase particularmente triste da sua vida. Eu não podia não estar presente no aniversário dela e foi assim que decidi rumar mais tarde para Sul. Fomos todos jantar, algures pela Baixa Portuense, e foi assim que o conheci. “Amigos em comum” é a resposta cliché à pergunta (também ela cliché) “como é que se conheceram?”. Não gostei dele à primeira vista, é verdade. Achei-o mal-encarado com uma pitada de arrogância à mistura. Com o avançar das horas, decidimos vir todos para minha casa. Eu fiquei sem cigarros e foi ele quem me “sustentou” o resto da noite. Trocamos algumas ideias, coisas banais apenas. Ele deixou de me parecer arrogante, passando a ideia de ser uma pessoa bastante acessível até. E assim se passou a noite. A pouco e pouco as pessoas foram indo embora até que só ficaram quatro ou cinco. Ele dormiu no chão da minha sala. Quando acordei, já lá não estava ninguém. Tinha sido uma boa noite. Uma noite calma, sem grandes excessos, passada entre amigos. Eu não idealizei nada, aliás, o interesse por ele nem surgiu aí. No dia seguinte fui para o Algarve e só passado uns dias é que voltei a ter notícias dele. Mandou-me mensagem a meter-se comigo por causa dos cigarros que lhe tinha ficado a dever e das cervejas que tinha deixado no frigorífico da minha casa. E foi aí que começou o meu dilema. Já tinha passado por algumas desilusões amorosas e estava muito sensível nessa altura. Disse-me um dia a V, que eu estava desesperadamente a precisar de me agarrar a algo que me fizesse acreditar que era possível eu ser feliz ao lado de alguém.
As coisas avançaram muito lentamente. Estivemos muito tempo sem falar. Ele sempre a insistir, eu sempre a ignorar. Ele nunca desistiu e eu nunca tinha tido ninguém que me desse assim tanta atenção. Até que parei de oferecer resistência, parei de fugir dos meus sentimentos. Já não dava mais, já não valia a pena lutar por uma causa que há muito estava perdida. Tinha-me apaixonado e isso era um facto. Por ele, deixei coisas muito importantes para trás. Com ele, cheguei a acreditar que realmente era possível ser feliz ao lado de alguém.
Passou um ano. Nunca cheguei a devolver-lhe os cigarros que lhe devia nem as cervejas que ficaram esquecidas no frigorífico da minha casa. Dei-lhe muito mais do que isso. Eu dei-lhe o meu coração, um coração carregado de bons sentimentos e muitas esperanças de um futuro feliz. Ele tomou conta dele durante algum tempo, acarinhou-o e encheu-o com emoções ainda mais fortes. Quando achou que já não era suficiente, quando se cansou, amachucou-o como quem amachuca um jornal velho e, por fim, deitou-o fora.

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