segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Infinito

Sinto, como jamais havia sentido, que sou um conjunto de moléculas formando um corpo onde a vida está concentrada em volta de um olhar.
E como jamais o havia sentido, sinto-me à superfície atormentada, pedregosa, terrosa, cheia de folhas e ervas, mas que mesmo assim e sobretudo é um bloco mineral. de um planeta chamado Terra pelos Homens, mas que não passa de um grão de poeira gravitando num espaço intersticial, no infinito das distâncias, no infinito do tempo.
Aponto, com um dedo estendido para a frente. Escapa-se dele uma linha que se dirige, a direito, para o espaço.
Lancei um traço que nunca mais deixará de avançar...
Nunca mais, nunca mais, nunca mais!...
Agarra-se-me à garganta a consciência física do vazio do espaço. Para onde quer que estenda o dedo, não haverá nunca, nunca, nunca qualquer parede para fazer parar a linha recta que dele sai!...
Sofro, como nunca antes havia sofrido, a violência atroz da frase de Pascal: "O silêncio dos espaços infinitos assusta-me".
Sim, é bem isso. Sobe-me à garganta um terror acelerado.
O segredo do mundo está ali, e é tremendo: nunca há fim, nunca há fim, nunca...
O silêncio em frente, sempre em frente, de todos os lados, para sempre...


Viagem ao Mundo da Droga, Charles Duchaussois

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