Estavam os dois na paragem à espera do autocarro. Não se conheciam. A única coisa que tinham em comum era aquela espera, que parecia não mais cessar. Ela estava impaciente, notava-se perfeitamente. Ele também mas, ao contrário dela, aparentava estar sereno. Estavam os dois atrasados, tinham os dois pessoas à sua espera e sítios onde já deveriam estar há algum tempo. Estavam há mais de meia hora naquela paragem de autocarro. Não trocaram uma palavra. Apenas um ou outro olhar cruzado. Aproxima-se uma amiga dela. Ele apercebe-se que aquele encontro foi um puro acaso. Ela conta à amiga tudo aquilo que lhe tentou contar, a ele, através dos olhares trocados. Estou aqui há imenso tempo, estou a dar em doida! O meu pai já está à porta de minha casa à minha espera e eu ainda nem tenho as malas feitas! Ele observava-a, atentamente. Ela apercebia-se.
Finalmente, chegou o tão esperado autocarro. Apesar da pressa, ficaram os dois como que desapontados. Ele tinha a sua vida. Ela tinha a dela. Não se conheciam, nunca sequer se tinham visto. Mas, durante aqueles minutos, vivenciaram a mesma experiência, como se estivessem a partilhar uma outra dimensão. Um mundo paralelo. Entraram, enfim, no autocarro que, devido ao monumental atraso, ia apinhado de gente. Constituiu-se uma cena que poderia ter como banda sonora a música do Carlos Paião - Foram juntos no outro dia, como por magia, no autocarro em pé. Iam quase colados um ao outro. Ela estava constrangida. Ele percebeu e deixou escapar um tímido sorriso. Ela sorriu também, baixando imediatamente o olhar.
Mais tarde ou mais cedo, um deles iria sair do autocarro e, muito provavelmente, nunca mais se voltariam a encontrar. Pensavam ambos nisso. Apesar de estarem com pressa, de terem compromissos e de já estarem muito atrasados, não queriam que aquele momento acabasse. Até que o autocarro parou. Era o regresso à realidade. Mas, para espanto de ambos, saíram na mesma paragem. Mesmo querendo continuar naquele limbo, ela acelerou o passo. Tinha o pai à espera e sabia que, tal como ela, ele odiava esperar. Quando chegou à sua rua, como que por instinto, olhou para trás. E lá estava ele. Seremos vizinhos? - era uma questão que flutuava no pensamento dos dois. Ele observava-a, torcendo para que o destino deles fosse o mesmo. Mas viu-a a subir as escadas de um prédio, depois de ter ido a um carro dizer qualquer coisa que ele conseguiu ouvir. Deve ser o pai dela - pensou. Estava certo.
Ela abriu a porta do prédio mas, antes de entrar, olhou para trás. Queria "despedir-se". Olharam-se durante não mais que 10 segundos. Mas foram 10 segundos intensos. Talvez os mais intensos das suas vidas. Ela entrou no prédio e ouviu a porta a bater nas suas costas. Ele continuou a andar. Ambos seguiram os seus caminhos, ambos seguiram as suas vidas. E ainda pensam, os dois, naquele dia em que o autocarro nunca mais vinha. Ainda pensam num possível reencontro. Talvez numa dessas paragens, algures nessa cidade. O autocarro era o 703. O destino? Sonhos.
Finalmente, chegou o tão esperado autocarro. Apesar da pressa, ficaram os dois como que desapontados. Ele tinha a sua vida. Ela tinha a dela. Não se conheciam, nunca sequer se tinham visto. Mas, durante aqueles minutos, vivenciaram a mesma experiência, como se estivessem a partilhar uma outra dimensão. Um mundo paralelo. Entraram, enfim, no autocarro que, devido ao monumental atraso, ia apinhado de gente. Constituiu-se uma cena que poderia ter como banda sonora a música do Carlos Paião - Foram juntos no outro dia, como por magia, no autocarro em pé. Iam quase colados um ao outro. Ela estava constrangida. Ele percebeu e deixou escapar um tímido sorriso. Ela sorriu também, baixando imediatamente o olhar.
Mais tarde ou mais cedo, um deles iria sair do autocarro e, muito provavelmente, nunca mais se voltariam a encontrar. Pensavam ambos nisso. Apesar de estarem com pressa, de terem compromissos e de já estarem muito atrasados, não queriam que aquele momento acabasse. Até que o autocarro parou. Era o regresso à realidade. Mas, para espanto de ambos, saíram na mesma paragem. Mesmo querendo continuar naquele limbo, ela acelerou o passo. Tinha o pai à espera e sabia que, tal como ela, ele odiava esperar. Quando chegou à sua rua, como que por instinto, olhou para trás. E lá estava ele. Seremos vizinhos? - era uma questão que flutuava no pensamento dos dois. Ele observava-a, torcendo para que o destino deles fosse o mesmo. Mas viu-a a subir as escadas de um prédio, depois de ter ido a um carro dizer qualquer coisa que ele conseguiu ouvir. Deve ser o pai dela - pensou. Estava certo.
Ela abriu a porta do prédio mas, antes de entrar, olhou para trás. Queria "despedir-se". Olharam-se durante não mais que 10 segundos. Mas foram 10 segundos intensos. Talvez os mais intensos das suas vidas. Ela entrou no prédio e ouviu a porta a bater nas suas costas. Ele continuou a andar. Ambos seguiram os seus caminhos, ambos seguiram as suas vidas. E ainda pensam, os dois, naquele dia em que o autocarro nunca mais vinha. Ainda pensam num possível reencontro. Talvez numa dessas paragens, algures nessa cidade. O autocarro era o 703. O destino? Sonhos.
Excelente texto... o destino da linha 703 é FANTÁSTICO!
ResponderEliminar