É engraçado. Sei dizer
especificamente o momento em que me apaixonei por ti. Aquele instante
que mudou tudo. Aquele segundo em que perguntei, de forma discreta,
logo depois de te ter cumprimentado, “quem é este teu amigo?”.
Uma resposta. Olhei para ti, “ah, então é ele!”. Pois, é ele,
ele é que é o tal. Isto aconteceu. Foi ali, naquele momento.
Lembro-me como se tivesse sido agora mesmo. E sinto o coração a
bater mais depressa, tal como senti ali, naquele sítio, naquela
noite. Desde esse dia que me apaixonei e me desapaixonei por ti mil
vezes, um milhão de vezes. Apaixono-me por ti sempre que te olho nos
olhos. Sempre que te vejo sorrir. As tuas covinhas são o meu ponto
fraco. E é aí que me desapaixono. Quando tenho a perceção
perfeita de que me dominas, de que estou presa a ti. Estou presa em
ti e não sei como me libertar. E aquela liberdade que eu tinha, que
eu tanto valorizava e gabava a todos? Roubaste-ma naquele instante,
no instante em que me apaixonei por ti.
É engraçado. Sei dizer
especificamente o momento em que me deste a mão pela primeira vez. E
eu, que já estava apaixonada, apaixonei-me outra vez. E outra e
outra e outra. Vezes incontáveis, seguidas, num mesmo momento.
Apaixonei-me todos os 365 dias em que não te vi, em que não te
toquei, em que muitas vezes nem te falei nem ouvi a tua voz.
Apaixonei-me outra vez no momento em
que não me quiseste. A rejeição tem destas coisas. Conhecemo-nos
no momento errado, dizias tu. Ainda que nos tivéssemos conhecido há
tantos anos atrás, quando ainda nem sabendo o que era o amor, nos
amamos perdidamente. Da forma mais pura, como só as crianças sabem
amar. Nunca disse que te amava. Nunca disse que te adorava. Nunca
sequer disse que estava apaixonada por ti.
Estou apaixonada por ti. Adoro-te.
Amo-te. Agora, neste preciso momento. Sei que no próximo segundo me
vou desapaixonar. No momento em que a consciência voltar. “Ele não
me quer, odeio-o!”. Por fim, fecho os olhos. Amo-te outra vez.